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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

As crianças da guerra invejam o estábulo onde Jesus nasceu



criança síria
"O Menino Jesus tem muitos amigos: milhares de crianças que perderam suas casas e vivem em barracos, pobres como o estábulo em Belém..."

Há 5 anos, em dezembro de 2013, um texto escrito e publicado por um arcebispo do Oriente Médio fez estremecerem e se arrepiarem todos aqueles que o leram no conforto de suas casas enfeitadas para mais um Natal.

Já fazia mais de 2.000 anos, porém, que aquele texto era atual.

Ao longo dos últimos cinco, ele foi especialmente vivo não apenas na Síria em que foi escrito, mas também no Iraque, na Líbia, no Iêmen, na Venezuela, no Congo, na Somália, na Coreia do Norte, em Mianmar, na Ucrânia… Em tantas partes do nosso planeta, muitas delas já esquecidas.

Eis o texto, tristemente atual, de dom Samir Nassar, arcebispo católico maronita de Damasco:

Neste Natal, podemos dizer que a Síria é o lugar que mais se assemelha a um presépio: um estábulo aberto, sem portas, frio e desamparado.


O Menino Jesus tem muitos amigos na Síria: milhares de crianças que perderam suas casas e estão vivendo em barracas, pobres como o estábulo em Belém.

Jesus não está sozinho em sua miséria. Crianças da Síria, que foram abandonadas e marcadas por cenas de violência, ainda prefeririam estar no lugar de Jesus: com pais amorosos para cuidar delas e dar-lhes carinho. Esta amargura é claramente visível aos olhos das crianças da Síria, em suas lágrimas e seu silêncio.

Alguns invejam o Menino Jesus, porque Ele encontrou um estábulo para nascer, protegido, enquanto algumas destas crianças sírias infelizmente nascem sob bombas caindo ou no caminho rumo ao êxodo.

E, apesar de suas muitas lutas, Maria não estava sozinha, como muitas mães menos afortunadas que vivem em extrema pobreza e assumem responsabilidades familiares sem a ajuda de seus maridos. Mesmo a precariedade da manjedoura de Belém traria consolo para aquelas mães esmagadas por problemas sem solução ​​e por desespero.

A presença reconfortante de José na Sagrada Família é uma fonte de inveja para as milhares de famílias sem pai – uma privação que gera medo, ansiedade e preocupação. Nossos desempregados invejam José, o carpinteiro, que é capaz de sustentar a sua família.

Os pastores, que com os seus rebanhos se aproximam da manjedoura, lembram os muitos fazendeiros sírios que perderam 70% de seu gado nesta guerra.

A vida nômade, que nesta terra bíblica remonta a Abraão e até mesmo a bem antes dele, desaparece abruptamente, junto aos seus antigos costumes de hospitalidade e cultura tradicional.

Os animais dos pastores se compadecem diante do sofrimento dos seus semelhantes sírios, que, devastados pela violência mortal, perambulam entre as ruínas e alimentam-se dos cadáveres.

O barulho infernal da guerra sufoca o “Glória” dos anjos. Esta sinfonia de Natal é obscurecida pelo ódio, pela divisão e pelas atrocidades.

Que os três reis magos tragam à manjedoura da Síria os mais preciosos dons do Natal: paz, perdão e reconciliação, para que a estrela de Belém possa mais uma vez brilhar em meio à escuridão da noite.

Senhor, escutai a nossa prece.

+ Samir Nassar
Arcebispo maronita de Damasco

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