Maria Emmir Oquendo Nogueira
Faz algum
tempo que tenho “matutado” sobre a consciência e sobre o velho e utilíssimo
“exame de consciência”. A bem da verdade, ainda não consigo me satisfazer com a
expressão mais moderna: “revisão de vida”. Para mim, revisão de vida remete
mais a atos exteriores, a pecados que fazemos, enquanto o exame de consciência
diz mais respeito àquilo que temos enraizado em nós e é a fonte de todo pecado.
Como Davi canta no salmo 50 “minha mãe me concebeu na culpa, à minha frente
está sempre o meu pecado”.
Quando
medito sobre o sentido da palavra “consciência” do ponto de vista da
antropologia teológica, que ensina ser a consciência aquela área na qual o
homem e Deus compartilham a ciência, isto é, o conhecimento da vontade de Deus,
aí é que resisto mais à substituição do velho “exame de consciência” pela
“revisão de vida”. Não que este termo seja inadequado, pois a Igreja o utiliza
largamente, mas porque penso que examinar a própria consciência é encontrar-se
com o Deus Vivo e partilhar com Ele a vivência de sua Vontade na nossa vida.
Tudo o que não corresponder a esta vontade deve ser banido, desenraizado do meu
ser, independentemente de já ter sido expresso como pecado em pensamentos,
palavras, atos ou omissões.
Cabe aos
formadores - dos pais e professores ao formador comunitário e pessoal – o papel
imprescindível de formar a consciência dos seus filhos e formandos. Isso é:
ensinar-lhes a moral da Igreja, ajudá-los a distinguir entre o que é bem e o
que é mal aos olhos de Deus e a levar sua vontade ao pleno cumprimento em uma
profunda coerência entre sua vida interior e exterior. Quando a consciência não
é bem formada, as pessoas sequer “enxergam” o que é pecado e raiz de pecado em
sua vida.
Há,
porém, o lado positivo da consciência, frequentemente esquecido: é aí, neste
“lugar de encontro com Deus” que podemos conhecer sem subterfúgios a sua
Vontade. Daí é que brota a misteriosa graça que nos faz dizer “sim” aos desejos
de santidade de Deus a nosso respeito. É aí que encontramos a motivação mais
íntima e a mais forte convicção para mudarmos de vida.
O “exame
de consciência” deveria, assim, ser, para todos nós, fonte de grande alegria.
Entretanto, comumente, fugimos dele. A causa mais plausível parece ser o medo.
Medo de “ter que mudar”, medo de “ver como sou ruim”, medo de ser julgado e
condenado.
O medo de
“ter que mudar” não tem fundamento. Deus respeita tão profundamente nossa
liberdade que, segundo Santo Agostinho, “deixou-nos livres até para ofendê-lo,
embora tenha negado a Si mesmo a liberdade de não nos perdoar”. O mero fato de
fazermos o exame de consciência fará brotar em nós a força do Espírito não só
para mudar, como para desejar mudar. Sendo nossa consciência um lugar em comum
entre Deus e nós, a visita em oração constante e honesta a este “lugar” nos
encaminhará necessariamente para a verdade e a santidade.
O medo de
“ver como sou ruim” está ligado ao medo de ser julgado e condenado. Sobre isso,
ouvi certa vez do Moysés uma exortação que mudaria inteiramente minha forma de
examinar minha consciência e me preparar para a confissão. Dizia ele em uma
pregação: “Ao perscrutar sua consciência você o está fazendo juntamente com o
Deus de Misericórdia, conduzido pelo Espírito Santo. Você estará diante da
Misericórdia, que acolhe, perdoa, e que já pagou o preço do seu pecado. Você
não estará diante de um juiz, mas de um Pai misericordioso que entregou seu
Filho único por amor a você. Você estará diante do Filho que amou você a ponto
de entregar-se. Não se coloque diante de você mesmo como juiz, pois não é você
que irá julgar a si mesmo. Ao fazer isso, você acabará por encontrar
justificativa para seus pecados com medo de sua própria condenação. Não se
coloque diante de um homem, pois o sacerdote não irá julgá-lo, mas ministrar o
perdão e a misericórdia de Deus. Com humildade, verdade e sem justificativas,
coloque-se diante do Amor Misericordioso de Deus que através do sacramento da
Reconciliação o perdoará inteiramente e recomeçará com você um novo caminho de
amizade”. Quem teria medo diante deste Deus que não julga segundo a justiça,
mas segundo a Misericórdia?
Ao longo
da nossa vida espiritual, compreendemos que acolhemos tão mais perfeita e
profundamente o perdão de Deus quanto mais perfeita e profunda forem em nós a
humildade e a confiança. O Espírito Santo as infunde em nós e nos leva a,
juntamente com Jesus, perscrutar nossa consciência e nos deixarmos perdoar sem
medo e sem justificativas, com a simplicidade de uma criança que, conduzida
pela Mãe, joga-se sem medo nos braços abertos do Pai.
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por Maria Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Shalom
Revista Shalom Maná
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